A maioria das lojas que vendem produtos de CBD são franquias, principalmente da Alemanha e da Itália. Elas promovem as propriedades terapêuticas deste composto da cannabis, que ajuda a tratar ansiedade, asma, artrite e também reduz a inflamação. Essas lojas são obviamente legais, mas as regulamentações variam de acordo com o país. O livre comércio se baseia em uma decisão do Tribunal de Justiça Europeu que permite a venda de CBD em todos os países europeus, desde que seja de origem legal. A Suíça é o país onde a venda é mais livre.
Essa disparidade nas regulamentações afeta tanto a loja quanto o cliente, como podemos ver ao entrar em um estabelecimento especializado em CBD como o de Mauro Romano no bairro de Gracia, em Barcelona.
Óleo de CBD: o óleo mais vendido na Espanha
Nas prateleiras, encontramos uma grande variedade de produtos: desde alimentos como massas, ricas em fibras e ômega-3 do cânhamo, até hidratantes. Mas o produto mais vendido é, sem dúvida, o óleo de CBD, que na Espanha é rotulado para uso tópico, não sendo adequado para consumo humano, enquanto em outros países é administrado por via sublingual.
"Não posso recomendar a melhor maneira de tomar o óleo, embora o cliente já tenha verificado online quando veio, e que em muitos países ele é tomado por via sublingual", explica Mauro, gerente da loja.
Outro produto, como "flores aromáticas" defumadas, é vendido com o consumidor sendo orientado a guardar o recibo e não remover o lacre da caixa até chegar em casa. O cheiro que exalam pode dar a impressão de que estão fumando maconha. Essa é uma forma de justificar a origem legal do produto em caso de uma possível multa policial.
A realidade é que, neste "mundo do CBD", a maconha ilegal é sempre fonte de suspeita. Rubén Valenzuela, CEO da empresa de pesquisa Valenveras, explica o porquê: "CBD e maconha são substâncias que vêm da mesma planta Cannabis Sativa, e mal conseguimos distingui-las. A principal diferença está na concentração de tetrahidrocanabinol (THC). Quando esse composto de THC atinge 1%, ele é psicoativo — seria maconha, para dizer o mínimo. Quando a concentração é de 0,2, não causa dependência e falamos de CBD. Por isso, gangues internacionais de narcotráfico realizam assaltos a plantações de cânhamo em busca da substância ilegal."
O cultivo de cânhamo industrial aumenta
O interesse pelo CBD na Espanha levou a um aumento no cultivo de cânhamo industrial, que se multiplicou por oito desde 2016, passando de 61 hectares para os atuais 510.
Para cultivar cânhamo industrial legalmente, a semente deve ser registrada na União Europeia. Isso garante que o teor de CBD não exceda 0,2%. Se o nível for superior, a plantação será considerada ilegal, não passará pelos controles policiais e a plantação terá que ser destruída.
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Rubén Valenzuela, em conjunto com a Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), criou o primeiro centro de cannabis da Europa e explica como eles realizam os controles para cumprir as normas: "Passamos por controles policiais para garantir que o nível de THC seja 0,2. Se excedermos esse nível, somos obrigados a destruir a plantação, pois o cultivo se torna ilegal. As condições climáticas podem alterar a concentração de THC, mesmo que a semente seja certificada pela União Europeia."
Diferentes legislações nos países da UE
E vai ainda mais longe: Rubén Valenzuela questiona por que cada país tem um nível de THC diferente: "A União Europeia já percebeu esse problema e nos informou que em 2023 aumentará esse limite de 0,2 para 0,3, mas temos que levar em conta como o cânhamo está evoluindo ao redor do mundo. Por exemplo, podemos ver como na Itália há um limite de 0,5, o que dá uma vantagem tremenda aos agricultores, e como a República Tcheca vai impor um aumento nos níveis de THC, assim como a Suíça. É importante ter um pouco mais de margem de manobra. Precisamos regular o processamento do cânhamo para que possamos processar a flor e extrair o óleo."
O uso habitual do cânhamo industrial era para a produção de fibras. De fato, na Espanha, a flor não pode ser processada para extração de óleo de CBD sem autorização especial da Agência Espanhola de Medicamentos e Dispositivos Médicos. Poucas empresas obtêm essa autorização, apenas aquelas dedicadas à indústria farmacêutica ou à pesquisa.